domingo, 13 de março de 2011

Nasci em Sergipe e queria mostrar o estilo do meu Estado...

Arte Barroca
Laranjeiras


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A cidade de Laranjeiras, situada no Vale do Cotinguiba, era um imenso canavial e durante muito tempo a cana-de-açúcar representou seu principal ciclo econômico. Com os engenhos, chegaram os escravos e as igrejas, com suas irmandades e festas. A cidade possui 16 igrejas católicas e se orgulha de ter sediado o primeiro templo protestante de Sergipe, a Igreja Presbiteriana, fundada em 1884. Laranjeiras é o maior pólo folclórico do estado de Sergipe. É no ciclo de natal, especialmente na Festa dos Santos Reis, que a tradição laranjeirense toma as ruas da cidade. As Taieiras rezam na Igreja de São Benedito, o santo preto e em seguida saem pelas ruas da cidade acompanhadas pelos Cacumbis, Reisados, Chegança, Congada, São Gonçalo, Caboclinhos e os Lambe - Sujo.

Laranjeiras teve sua colonização iniciada no final do século XVI, após a conquista de Sergipe por Cristóvão de Barros. A presença dos padres jesuítas na região, em fins do século XVII, teve grande influência na colonização e religiosidade. A cidade fixa-se às margens do riacho São Pedro, local onde foi erguida a primeira igreja e, também, a residência dos religiosos, conhecida como Retiro. Em 1734, é concluída a obra da Igreja de Comandaroba, hoje um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do estado.

O desenvolvimento econômico aconteceu com a chegada da cana-de-açúcar, fazendo com que as margens do Cotinguiba se desenvolvessem e atraindo comerciantes de várias partes do estado. Na época existiam muitas laranjeiras no local, dando origem ao nome da cidade que, no século XVIII, com o ciclo de cana-de-açúcar, chegou ao apogeu financeiro.
Antes pertencente a Socorro, Laranjeiras é elevada à categoria de vila, em 1832, devido ao seu grande desenvolvimento e vida social intensa. Em 1836 é designada como primeira alfândega de Sergipe, por sua importância como grande centro comercial e exportador. Em 1848 passa à categoria de cidade.

A maior parte do patrimônio arquitetônico de Laranjeiras é de influência barroca. A essa característica juntaram-se outras influencias gerando uma característica eclética em muitos de seus prédios.

Por muito tempo, o que hoje conhecemos como estilo barroco foi visto de forma pejorativa, como sinônimo de algo bizarro, prolixo, deformado. A própria palavra barroco, em sua origem, tem uma conotação depreciativa: nas joalherias espanholas, eram chamadas barrueco as pérolas defeituosas. Observe-se que a atribuição ao barroco de significado depreciativo não é caso único na história da arte: termos como Impressionismo, Fauvismo, Cubismo, no começo, foram assim também interpretados. Parece claro que tal conceito tomava como referencial de perfeição a arte clássica do Renascimento, sua pureza de linhas, seu equilíbrio formal, sua clareza na concepção. A partir do trabalho de autores como Wölfflin e Eugênio d'Ors é que o Barroco se reabilitou, passando a ser percebido como um estilo que, partindo de conquistas estéticas herdadas dos renascentistas, se propôs a introduzir nas formas novos elementos: a emoção, o efeito, a retórica dramática, o movimento, a intensidade expressiva.

Em Laranjeiras o Barroco se integra a atmosfera da cidade. Essa total integração entre o patrimônio arquitetônico existente e a paisagem da cidade se fundem de tal forma que os elementos arquitetônicos completam a visão paisagística e nunca são vistos como algo que interfere na paisagem natural. 





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O sonho é incluir Sergipe no roteiro turístico mundial. Mais precisamente a pequena São Cristóvão, antiga capital do Estado até metade do século 19, a 26 quilômetros de Aracaju. De imediato, basta se igualar a Olinda, em Pernambucano, mais famosa no exterior que a capital, Recife, graças ao seu casario preservado. Às 17h25 de domingo a Praça São Francisco, no centro de São Cristóvão, foi declarada pela Unesco Patrimônio Histórico da Humanidade.

A honra foi conquistada por suas características de praça espanhola encravada numa cidade colonial nos trópicos, construída no período em que Portugal e Espanha eram governados pelo rei espanhol Felipe II no final do século 16. Em alguns momentos, especialmente na tranquilidade do cair da noite, a sensação de quem está lá é realmente de uma viagem pelo tempo.
A briga pelo título que coloca a praça sergipana no mesmo patamar de importância para a humanidade que a Muralha da China e as pirâmides do Egito começou há cinco anos. O mote, já que não era mais possível retomar o posto de capital, era transformar São Cristóvão, fundada há 420 anos, em sua capital cultural. "Esse título é uma espécie de selo de qualidade que diz que nós somos importantes. Isso faz um bem danado para o povo", analisa Thiago Fragata, historiador e diretor do Museu do Estado, que funciona na Praça São Francisco.
Fragata, nascido e criado em São Cristóvão, coordenou a comissão pró-candidatura tentando divulgar a importância da praça. E, desde o início de sua jornada, o principal problema foi convencer o próprio sergipano de que o lugar tem seu valor.

"Sergipe é o menor Estado do Brasil. E isso tem um preço. O sergipano de um modo geral se menospreza e só valoriza o que vem de fora. Era preciso acordar Sergipe para o valor desta cidade", diz Fragata. A maioria dos 80 mil habitantes de São Cristóvão não acreditava que aquele casario pudesse ter algum valor. Começaram a achar que era possível quando verbas federais e estaduais jorraram nos últimos dois anos para adequar São Cristóvão às exigências da Unesco. Foram gastos mais de R$ 10 milhões nessa cruzada.
Mas só tiveram certeza mesmo de seu valor agora. Dois dias depois da conquista do título, a cidade viu triplicar o número de turistas, principalmente brasileiros, interessados em saber que cidade é essa.
Não é simples desbravar São Cristóvão. A cidade é dormitório para quem trabalha em Aracaju. Não há pousadas, nem restaurantes. Existem dois caminhos partindo de Aracaju. O mais antigo é pela Rodovia João Bebe Água, homenagem a um comerciante do século 19 que brigou para que São Cristóvão voltasse a ser capital de Sergipe.
João não era lá muito fã de água. Gostava mesmo era de uma boa cachaça. Dizem que tinha até um barril de aguardente ao lado da cama.
A rodovia teve uma parte duplicada, mas há ainda um bom trecho sem sinalização, esburacado e sem iluminação. Chegar a São Cristóvão por ela é um péssimo cartão de visitas. O governo estadual promete melhorias, assim como a construção de uma terceira via de acesso cortando o povoado de Rita Cacete, a sete quilômetros de São Cristóvão. O nome inusitado não tem explicações nos registros sergipanos.
O outro caminho, mais longo, é pela BR 101. O trecho que vai de Aracaju à entrada de São Cristóvão aumenta a viagem em uns cinco quilômetros, mas é bom. O problema é deixar a estrada para pegar o caminho que leva a um dos patrimônios da humanidade. A estradinha é asfaltada, mas com buracos. Como o centro histórico fica na parte alta, é preciso passar por ruas mal cuidadas, sem sinalização, com mato alto, muita lama e água parada à porta de casas simples, fruto das chuvas recentes que atingiram a região. Até desembocar na praça é difícil não pensar "o que é que eu vim fazer aqui?"
Vale a pena insistir. A Praça São Francisco parece continuar no século 17. Principalmente se a chegada for ao cair da tarde e o silêncio dominar o lugar. A iluminação valoriza o conjunto arquitetônico. No lado norte fica o Convento de São Francisco, onde funciona o belíssimo Museu de Arte Sacra; no leste, a Igreja e a Santa Casa de Misericórdia; no sul, o sobrado do antigo Palácio Provincial; do outro lado, cinco construções, onde funcionam, entre outras coisas, a biblioteca e o museu do folclore. No centro fica um cruzeiro, característico da Ordem Franciscana.
O encantamento é abalado à luz do dia. O despreparo para receber a esperada horda de turistas é tanto que os moradores que se arriscam a guias na tentativa de ganhar uns trocados fazem um samba do crioulo doido com a história local. "É gente dizendo que foi aqui no prédio do museu que Pedro II se encontrou com Pedro Álvares Cabral e que uma bala de canhão destruiu a torre da igreja na 2ª Guerra Mundial", se irrita Thiago Fragata. Não é preciso inventar fatos históricos. São Cristóvão tem muita história.

O imperador Pedro II de fato se hospedou no palácio provincial por duas noites, mas isso foi 340 anos depois da morte do navegador português que descobriu o Brasil. Os tiros disparados pelos alemães em agosto de 1942 não chegaram nem perto da praça. Atingiram cinco navios e um iate na costa sergipana. O que os guias não contam é que no Convento São Francisco ficaram hospedadas as tropas federais a caminho da Guerra de Canudos ou que o escritor Jorge Amado gostava tanto da cidade que no seu romance, Cacau, o personagem principal é José Cordeiro, o Sergipano, morador do sobrado que hoje abriga o escritório do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Fora dos domínios da praça, a cidade tem outras cinco igrejas históricas. Uma tem um atrativo especial para os católicos. Foi na Nossa Senhora do Carmo que Irmã Dulce, em processo de beatificação, passou um ano e meio no claustro. As outras grandes atrações turísticas locais pegam o visitante pela gula. São Cristóvão produz a melhor queijadinha de Sergipe. O doce, apesar do nome, não leva queijo. É uma adaptação de escravos brasileiros para o doce português. Mistura coco, açúcar, farinha, ovos e margarina. É assado lentamente em forno a lenha. Marieta Santos, que há 50 anos faz a melhor queijadinha de São Cristóvão, costumava vender cem doces por dia a R$ 1 cada. Na quarta-feira, vendeu 400. "Me pus de pé às 2h30 da manhã para dar conta", disse na quinta-feira, enrolando os doces nos fundos da loja da Praça da Matriz. Também faz sucesso o briclete, biscoito feito pelas freiras carmelitas e vendido a R$ 2 na antiga Santa Casa.
A última semana foi especial. No domingo, logo depois de a notícia se espalhar, todas as igrejas tocaram os sinos. Em seguida, os moradores deram um abraço na praça. Tudo organizado por Vânia Dias Correa, uma das figuras mais populares da cidade. "Quando soube d a notícia pulei que nem cabrito. Agora o mundo vai conhecer São Cristóvão".
Euforia à parte, a decisão da Unesco deu novo alento aos são-cristovenses. Há dois anos, a cidade sofreu com a confusão na política. Em um ano, as denúncias de corrupção foram tantas que a cidade teve sete prefeitos. Há obras importantes paradas porque os contratos estão sob suspeita. "Viramos motivo de chacota", lembra Thiago Fragata.
Até em São Cristóvão fizeram piadinhas. "A cidade não é histórica? Essa é mais uma história que a gente conta, ôxente", diz Bartolomeu Lima, que até quarta-feira mantinha uma barraca na praça vendendo queijadinha e água de coco. Agora foi expulso para outra rua. "Os homens da prefeitura disseram que agora que isso aqui é patrimônio eu não combino com o lugar. É mole? Justo agora que os turistas vão chegar", reclama.

Não só os ambulantes foram expulsos. Ônibus e caminhões já são proibidos de circular, mas ninguém obedece. "A confusão na política torna mais difícil fazer com que os moradores obedeçam às regras", analisa Terezinha Alves, superintendente regional do Iphan, que não se conforma com a desobediência. Desespero maior é quando motos trafegam sobre o pavimento de pedras, no centro da praça. As motos, aliás, dominam a cidade. Estão por toda parte. Não se vê mais jegues. As motos agora puxam até carroças.
Apesar de seus 420 anos, São Cristóvão não tinha saneamento básico. Todo o esgoto era lançado no Rio Paramopama. A situação está mudando. Já foram gastos R$ 7 milhões em saneamento. O projeto Monumenta, do IPHAN, injetou R$ 8,8 milhões para a reforma geral na praça. Outros R$ 54 milhões chegarão dentro do PAC das cidades históricas.

"Essa é uma oportunidade sem precedentes na história de Sergipe. É nossa chance de ganhar visibilidade internacional", calcula Thiago Fragata. Mais do que atrair turistas e dinheiro, a esperança é mudar o espírito da população. "É a chance de alavancar o orgulho de ser sergipano", sonha Thiago.

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